segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Eleições e política partidária

Queria destacar alguns pontos destas eleições.

Primeiro: nunca vi uma eleição tão ridícula que não havia propostas e a maior parte das coisas ditas pelos candidatos eram medidas que, teoricamente, seriam tomadas por prefeituras: construir casas, escolas, universidades, escolas técnicas, mini-hospitais, acompanhamento às gestantes, etc... Principalmente do lado do PSDB. Do lado do PT, pior que isso, a candidata apenas resignou-se a um discurso continuista da atual gestão, vivendo às sombras do atual presidente – que foi seu fiel escudeiro o tempo todo.

Segundo: foram postas, no lugar das propostas e da discussão a respeito de um “projeto de 4 anos para um país”, picuinhas e questões menores, ataques à honra de cada candidato. Se perguntarmos para um eleitor de Dilma ou Serra o que de fato eles propuseram no nível macro-econômico, a postura da política internacional de cada um, como irão enfrentar um possível cenário internacional desfavorável no futuro... duvido que a maior parte deles saibam.

Terceiro: o que na verdade moveu a votação dos eleitores, de fato, não foi um “projeto de país” apresentado por cada candidato e, sim, uma série de questões pessoais, religiosas, de atividade política na época da ditadura e o “medo” de parte a parte. Do lado dos petistas impera o medo das privatizações – feitas na era em que o PSDB governou o país –, de um possível “esquecimento” do nordeste (para os nordestinos) e de uma comparação dos “tempos de FHC” com a “era Lula”. Do lado dos “tucanos” pesa do fato do passado político de Dilma como ativista política na época da ditadura (integrante que foi do grupo Palmares), a questão do aborto e a questão da quebra de sigilo de pessoas ligadas ao candidato “tucano” bem como do próprio Serra. Além, é claro, do apelo constante, por parte dos petistas, para eleição da “primeira mulher” à presidência do Brasil – que se trata de um preconceito invertido, posto que, o simples fato de ser mulher, não credencia (nem descredencia) ninguém a ser qualquer coisa: para confirmar que o critério é isonômico, ou seja, igual para todos, o fato de ser mulher ou homem, NEGRO OU BRANCO (sim, isso é uma menção explícita às eleições americanas), homo ou hetero, enfim, quaisquer das condições pessoais de cada pessoa não deve sequer ser lembrada, o que deve ser considerado é apenas as propostas bem como as condições de cumprir estas propostas, avaliando o que cada um de fato prometeu e fez em sua vida política até então.

Quarto: os candidatos, de parte a parte, assumiram a postura medrosa e meramente eleitoreira diante dos fatos. Serra ficou acuado quando o assunto era privatizações, negou veementemente que iria privatizar, sequer fez menção à experiência ótima no Brasil de setores como a telefonia e a venda da CVRD – experiências colocadas em prática por seu próprio partido, diga-se de passagem. Dilma fez o mesmo, quando posta diante da questão do aborto: desconversou, tergiversou, mas não foi ao ponto central. Isso demonstra falta de firmeza ideológica e uma postura meramente de “caçadores de voto” de ambos.


Quinto: eu e as eleições: diante deste diagnóstico, tenho algumas análises a respeito do escrutínio realizado no Brasil em 2010:

a) Estamos diante de uma população e de um cenário partidário muito frágeis, vulgarizados, fisiocratas, imbecilizados e imbecilizadores. Estamos diante de um povo que age muito mais à base do oba-oba e somente espera “com a boca escancarada cheia de dentes” em cima do “trono” que as coisas aconteçam; estamos diante de pessoas que agem como cães furiosos quando ameaçados de perder suas benesses do tipo “bolsa esmola”, ou privatização de uma empresa pública onde alguns deles trabalham sugando o sangue do Estado (como diriam os argentinos: são “ñoquis”). Estamos diante de “crentes cegos” que não conseguem vislumbrar a necessidade da legalização do aborto, não porque as pessoas que querem isso (eu estou entre elas) sejam a favor da morte: ao contrário, somos a favor da vida, pois o Estado não consegue controlar a oferta de clínicas clandestinas que oferecem este serviço, muito menos reprimir a demanda de pessoas do sexo feminino que querem praticar o aborto. Nas clínicas clandestinas, essas garotas acabam correndo risco de vida. Então, fica a pergunta: não seria um “mal menor” perder “apenas” uma vida e não duas? Minha resposta é sim. Além do que, a mulher pode dispor de seu corpo como quiser (não estou dizendo que o bebê é parte do corpo da mulher, apenas que o bebê inegavelmente usa o corpo da mulher por 9 meses como “casa”, hora, a mulher não é obrigada a abrigar um corpo estranho ao seu sem querer...).
b) Estamos diante de um cenário onde o Estado se tornou importante demais, muito mais importante que o necessário, onde as pessoas estão acostumadas com as “muletas” para andar, trata-se de um caso um tanto quanto “interessante”, qual seja: o sujeito quebra a perna, precisa usar muletas durante a recuperação, porém, depois de recuperado, continua andando com o auxílio das muletas... aceita o quadro. É isso o que acontece quando o Estado ganha um poder maior que o necessário.
c) O ideal, no meu modo de ver, era que sequer existisse o Estado, pois o Estado é apenas uma organização que monopoliza alguns serviços com base na força, serviços estes que poderiam muito bem ser melhor prestados SEM O ESTADO. O índice de eficiência do Estado em todos os serviços que presta é muito baixo e o motivo é simples: o Estado não precisa dá satisfação a respeito da eficiência do serviço que presta (cuidado, não confundir Estado com GOVERNO, o Estado é todo o aparato público, como a polícia, os fiscais, os funcionários de repartições públicas, deputados, juízes, desembargadores, enfim, toda essa teia de funcionários públicos, o GOVERNO é apenas uma parte do Estado), por causa disso, é sempre ineficiente. Portanto, quanto menos dependemos do Estado, melhor estaremos. Se possível, que possamos depender 0% do Estado. Por este motivo não votei em ninguém nesta eleição, algumas vezes “perdi meu tempo” para ver pela TV a propaganda dos presidenciáveis e constatei o que pude relatar ao longo deste texto, até porque não sou um avestruz.
d) Nunca é demais lembrar: a presidenta eleita não tem legitimidade popular, pois conta com o voto de muito menos da metade das pessoas que podem votar.

sábado, 3 de abril de 2010



soltos ficam todos os desejos quando a noite vem
então as letras resolvem-se e afogam-se sozinhas
em mim, mas juntas já não formam palavras
nem imagens: miragens de sonhos (equi)distantes.

Um tempo que escapa pelas mãos da memória
se forma em um momento impreciso e deixa
tudo o que tem a maior intensidade escondido
nos fragmentos desse movimento que mata e
ao mesmo tempo faz viver:

Como todo amor desperdiçado aos domingos
quando nos falamos pela última vez,

Como todo corpo de afetos guardados em mim
que sucumbirão num dia de sol,

Como os pássaros d'"O poema sujo"
e toda aquela história poética que acabo de ler,

Como a Buenos Aires que não conheço
mas sei que chega até mim intensa naqueles versos,

Como o tempo em que não nos falamos e
apenas inventamos diálogos entre nós.

Toda a poesia é apenas inventividade
Toda palavra está morrendo, porque as
palavras vêm e vibram em mim e depois
vacilam quando minha mão as traduz
da linguagem caótica dos blocos intensos para
a Língua Portuguesa; toda poesia ofega
em cima deste frágil momento de morte dentro
da minha vida.



Vinicius Falcão
02/04/09

terça-feira, 16 de março de 2010


Segredos.


Os meus segredos talvez sejam imperceptíveis.
Não tenho o que te contar, não sei o que esconder
As palavras não fazem sentido
E todos os poeminhas pessoais são
Ridículos.

Como são ridículos todas as lamentações
e todo ressentimento e todo concretismo
cimento-tijolo que foi inventado nos
Campos e pelas linhas de ferro
(como tudo já não desce na minha goela:
nem o álcool, que eu trago comigo o tempo todo;
nem o meu intestino, que eu-vomito;
nem a minha alma, que eu renego;
nem a minha cama, onde eu-habito);
porque sei que em tudo o que pego
há uma palavra não dita, a ser dita
que escorre de mim como um grito
e escapa ao mundo como um berro
todos os meus segredos
sem que eu saiba que eram secretos.

Vinicius Falcão.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

apenas mais um poema sem título




Cedo demais para dormir
Tarde demais para sonhar
Não há mais para onde ir
E nem um sorriso mostra um lugar
Onde se possa procurar por si mesmo
Posto que si mesmo já não é mais
foi embora daqui.

Algum lugar distante apresenta saídas
que são capazes de resolver o que queremos
que não são capazes de dizer nada
(As palavras rompem a manhã
que surge sem sol
num dia qualquer da semana
que não é DOMINGO

na verdade, já nem me importa mais o dia
nem o que me espera lá fora
a vida apenas segue, como um fluxo de intensidades
morro algumas vezes a cada instante
e a morte me ensina a vida cada vez melhor.)

Os raios de sol fazem ranger minha armadura
o que erigi para resistir aos perigos do mundo
aos perigos que surgem sem avisos e que
não tem rotas...

apenas deixo a linguagem me atrair
VA-GA-RO-SA-
MENTE!
até que eu enfim quede morto "malucobelezamente" com a cabeça no meio fio
depois que um ônibus desgovernado me atropelar.

Vinicius Falcão, 8 de janeiro de dois mil e dez.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

DiFeRENçAS

(imagem: francis bacon)

Os caminhos então repartidos podem se encontrar em algum lugar, como palavras que lentamente se despedaçam antes mesmo que nosso pensamento as faça nascer. No final de tudo, o que conhecemos é um grandioso caos em meio a um pequeno pedaço de razão, de organização, tudo jogado num mundo louco. não pensamos somente, também sentimos! Seria bobo tentar estabelecer uma ponte ligando os dois lados, ou estabeler uma ordem de prioridade entre eles. Os dois estão completamente ligados, mesclados, misturados. se nasce uma razão dentro do caos há um motivo, algumas necessidade para isso; o caos, apesar de tudo, não é um mero fruto amorfo do acaso. estamos perdido, imersos num nebuloso mar de lama e caos, neste bloco desregrado ainda existe um pouco de razão e sabedoria, assim como existe muito de loucuras e delírios, devemos apenas seguir para onde nossa melhor bússola nos envia. Talvez sem prisões, sem grilhões, sem deixar que paixões e razões demasiadas sejam impecilho.


NÃO SOMOS UM IMPÉRIO DA RAZÃO!


SÓ NOS FORMAMOS QUANDO ESTAMOS IMERSOS EM DELÍRIOS ALHEIOS...


... QUANDO ROUBAMOS OS DELÍRIOS ALHEIOS E DESPERTAMOS OU NO DEIXAMOS EMBEVECER POR ESTA MISTURA MAIS DO QUE ETÍLICA E PSICODÉLICA DE INTENSIDADES INSANAS QUE SE CHAMA VIDA.


O mundo agora se abre para o que já não sabemos exatamente o que é, posto que as aberturas se dão quando nos propomos a criar, criar uma vida e não simplesmente nos deixar levar pelo que temos posto, pelo líquido sujo onde estamos imersos ... o caos da razão que o mundo nos joga. Sigo uma linha de vida refeita, ela só repete as ações de forma diferente, ela só encontra o que tem de intensidades boas para que eu possa encontrar alegrias em meu caminho. Pois os encontros são cmo a trilha sonora de um filme. Seguimos as linhas e estamos sempre abertos a encontros, nem sempre bons, mas inevitáveis.


É preciso encontrar um caminho somente seu e saber por onde podemos andar e pisar. Nunca somos...


(por causa dos encontros, da loucura, do caos e da forma própria expansiva de toda a vida)


... somente um, somos um coletivo de vozes.


É inútil procurar UM EU, da mesma forma que é inútil procurar a razão PURA. É inútil tentar nos representar, não tem como dizer o que queremos, vivemos ou sentimos exatamente, pois não somos somente um, somos apenas ecos dos coletivos que nos habitam.


Vinicius Falcão, cinco de dezembro de 2010...

segunda-feira, 20 de julho de 2009

A louca engenharia de um vício

eu tenho um grande vício que todo dia
alimento e depois vou devagar,
vou correndo, como se desesperado
estivesse, sem destino, para todos
os lugares e olhares e sentidos;
vou correndo, como quem tenta encontrar
figuras sem imagens, sem pensamentos e
loucuras sem entraves e partidas sem revoltas

acumulam-se agora revoadas
de pensamentos sem imagens; revoadas
de poemas, de palavras, de sentidos
desencontrados e saltitantes; águas
passadas que se encontram aqui comigo
com a superfície deliciosa
à minha frente. vamos nadar por cima
de mim, de minhas forças, alimentando
os meus vícios e medos, distantes desses
modelos formais, cravando na pele,
confirmando o vício que de meus poros
e orifícios escapa, para além
de um mundo de fagulhas e de chamas
que não se apagam eu tenho um vício,
delicioso vício, que se chama
VIDA.

20/07/09

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Não sei o que dizer. As palavras apenas saem, vazam, como um cano furado e cheio de água por dentro.

Gosto de ver as palavras no papel. Assim, no computador, fica estranho, pois não as consigo tocar. Eu gosto das palavras, de sentir o gosto quando toco, mas não toco com os olhos e sim com as mãos, não posso tocar se estão separadas de mim pela tela do computador.

Escrever talvez seja a melhor coisa que existe. Mas quando o que você escreve vai pro papel digitado. Não gosto de coisas escritas a mão, a digitação tem um todo um charme, consegue me encantar, confesso. Mas ainda assim eu resisto e escrevo, mesmo com a minha impressora quebrada. Se pudesse ficaria anos a fio só escrevendo, qualquer coisa que vem à cabeça. Não queria que isso soasse como desabafo, mas talvez seja apenas um desabado, ainda mais porque estou falando que não queria isso. Que seja! Pelo menos estou escrevendo, isso é o tudo o que mais me importa.

Queria sentir o vento do tempo batendo em meu rosto, em meus cabelos. Queria não sentir tanta falta das novidades e, por isso mesmo, tentar alcançá-las, num vazio discreto que o horizonte aponta quando amanhece. Depois que tudo ficar pronto, que todo esse barulho de teclas do computador parar, depois de tudo, apenas vou suspirar e sentir tristeza, tristeza por já ter terminado de escrever, tristeza por não poder tocar no que escrevi, tristeza, apenas tristeza. Mas ainda uma tristeza alegre, uma alegria difícil, uma tristeza extremamente ativa – é a atividade a marca mais forte da alegria e as alegrias são sempre passageiras (ainda bem, só assim as podemos reinventar). As alegrias passam como as pessoas que gostamos entram e vão embora de nossas vidas. Sempre fica alguma coisa, embora já não seja mais alegre, nem triste, apenas alguma coisa, algum sentimento que não pode mais ser nomeado.

Os pontos, as vírgulas, os travessões para colocar comentários no meio das frases, os parênteses que têm quase a mesma função dos travessões, o ponto e vírgula que deixa com que possamos separar longas frases explicativas no discurso, as aspas que permitem a ironia e os acentos, os queridos acentos, que servem para indicar a entonação. Eis a língua. Mas não aceito a língua como ela é, consigo fazer seus signos falarem mais do que isso, consigo – ou pelo menos tento – fazer com que toda essa engrenagem gramatical que exerce poder saia de sua ordem funcional e consiga girar em outro sentido. É o que tento fazer quando escrevo. Por isso alterno frases curtas e longas. Como essa. Ou como a primeira frase desse parágrafo. Por isso também alterno parágrafos curtos e longos ao longo de meus textos. Por isso muitas vezes repito expressões e separo com pontos o que poderia ser apenas separado com vírgulas. É uma questão de estilo. É uma questão experimental. É isso, é uma questão experimental.

Escrever, eu amo escrever e odeio as coisas já escritas, ler as coisas que escrevi eu odeio. Escrever, eu adoro esse processo, esse ato. Escrevendo. É muito bom estar escrevendo, sinto que poderia ter acabado esse texto alguns parágrafos atrás, mas continuo me alongando, não consigo parar de escrever. Não quero mais dizer nada, se quiser pare de ler agora, pouco me importa se estão querendo ler o que escrevo, eu apenas quero escrever, vomitar, regurgitar o que me importa e conservar o que me interessa agora. Antes de morrer eu quero ter escrito muito mais coisas como essas, melhores do que essas. Antes de morrer eu apenas quero escrever, uma, duas linhas, coisa pouca, qualquer coisa sem sentido que afirme ainda mais a vida ante à morte.