Primeiro: nunca vi uma eleição tão ridícula que não havia propostas e a maior parte das coisas ditas pelos candidatos eram medidas que, teoricamente, seriam tomadas por prefeituras: construir casas, escolas, universidades, escolas técnicas, mini-hospitais, acompanhamento às gestantes, etc... Principalmente do lado do PSDB. Do lado do PT, pior que isso, a candidata apenas resignou-se a um discurso continuista da atual gestão, vivendo às sombras do atual presidente – que foi seu fiel escudeiro o tempo todo.
Segundo: foram postas, no lugar das propostas e da discussão a respeito de um “projeto de 4 anos para um país”, picuinhas e questões menores, ataques à honra de cada candidato. Se perguntarmos para um eleitor de Dilma ou Serra o que de fato eles propuseram no nível macro-econômico, a postura da política internacional de cada um, como irão enfrentar um possível cenário internacional desfavorável no futuro... duvido que a maior parte deles saibam.
Terceiro: o que na verdade moveu a votação dos eleitores, de fato, não foi um “projeto de país” apresentado por cada candidato e, sim, uma série de questões pessoais, religiosas, de atividade política na época da ditadura e o “medo” de parte a parte. Do lado dos petistas impera o medo das privatizações – feitas na era em que o PSDB governou o país –, de um possível “esquecimento” do nordeste (para os nordestinos) e de uma comparação dos “tempos de FHC” com a “era Lula”. Do lado dos “tucanos” pesa do fato do passado político de Dilma como ativista política na época da ditadura (integrante que foi do grupo Palmares), a questão do aborto e a questão da quebra de sigilo de pessoas ligadas ao candidato “tucano” bem como do próprio Serra. Além, é claro, do apelo constante, por parte dos petistas, para eleição da “primeira mulher” à presidência do Brasil – que se trata de um preconceito invertido, posto que, o simples fato de ser mulher, não credencia (nem descredencia) ninguém a ser qualquer coisa: para confirmar que o critério é isonômico, ou seja, igual para todos, o fato de ser mulher ou homem, NEGRO OU BRANCO (sim, isso é uma menção explícita às eleições americanas), homo ou hetero, enfim, quaisquer das condições pessoais de cada pessoa não deve sequer ser lembrada, o que deve ser considerado é apenas as propostas bem como as condições de cumprir estas propostas, avaliando o que cada um de fato prometeu e fez em sua vida política até então.
Quarto: os candidatos, de parte a parte, assumiram a postura medrosa e meramente eleitoreira diante dos fatos. Serra ficou acuado quando o assunto era privatizações, negou veementemente que iria privatizar, sequer fez menção à experiência ótima no Brasil de setores como a telefonia e a venda da CVRD – experiências colocadas em prática por seu próprio partido, diga-se de passagem. Dilma fez o mesmo, quando posta diante da questão do aborto: desconversou, tergiversou, mas não foi ao ponto central. Isso demonstra falta de firmeza ideológica e uma postura meramente de “caçadores de voto” de ambos.
Quinto: eu e as eleições: diante deste diagnóstico, tenho algumas análises a respeito do escrutínio realizado no Brasil em 2010:
a) Estamos diante de uma população e de um cenário partidário muito frágeis, vulgarizados, fisiocratas, imbecilizados e imbecilizadores. Estamos diante de um povo que age muito mais à base do oba-oba e somente espera “com a boca escancarada cheia de dentes” em cima do “trono” que as coisas aconteçam; estamos diante de pessoas que agem como cães furiosos quando ameaçados de perder suas benesses do tipo “bolsa esmola”, ou privatização de uma empresa pública onde alguns deles trabalham sugando o sangue do Estado (como diriam os argentinos: são “ñoquis”). Estamos diante de “crentes cegos” que não conseguem vislumbrar a necessidade da legalização do aborto, não porque as pessoas que querem isso (eu estou entre elas) sejam a favor da morte: ao contrário, somos a favor da vida, pois o Estado não consegue controlar a oferta de clínicas clandestinas que oferecem este serviço, muito menos reprimir a demanda de pessoas do sexo feminino que querem praticar o aborto. Nas clínicas clandestinas, essas garotas acabam correndo risco de vida. Então, fica a pergunta: não seria um “mal menor” perder “apenas” uma vida e não duas? Minha resposta é sim. Além do que, a mulher pode dispor de seu corpo como quiser (não estou dizendo que o bebê é parte do corpo da mulher, apenas que o bebê inegavelmente usa o corpo da mulher por 9 meses como “casa”, hora, a mulher não é obrigada a abrigar um corpo estranho ao seu sem querer...).
b) Estamos diante de um cenário onde o Estado se tornou importante demais, muito mais importante que o necessário, onde as pessoas estão acostumadas com as “muletas” para andar, trata-se de um caso um tanto quanto “interessante”, qual seja: o sujeito quebra a perna, precisa usar muletas durante a recuperação, porém, depois de recuperado, continua andando com o auxílio das muletas... aceita o quadro. É isso o que acontece quando o Estado ganha um poder maior que o necessário.
c) O ideal, no meu modo de ver, era que sequer existisse o Estado, pois o Estado é apenas uma organização que monopoliza alguns serviços com base na força, serviços estes que poderiam muito bem ser melhor prestados SEM O ESTADO. O índice de eficiência do Estado em todos os serviços que presta é muito baixo e o motivo é simples: o Estado não precisa dá satisfação a respeito da eficiência do serviço que presta (cuidado, não confundir Estado com GOVERNO, o Estado é todo o aparato público, como a polícia, os fiscais, os funcionários de repartições públicas, deputados, juízes, desembargadores, enfim, toda essa teia de funcionários públicos, o GOVERNO é apenas uma parte do Estado), por causa disso, é sempre ineficiente. Portanto, quanto menos dependemos do Estado, melhor estaremos. Se possível, que possamos depender 0% do Estado. Por este motivo não votei em ninguém nesta eleição, algumas vezes “perdi meu tempo” para ver pela TV a propaganda dos presidenciáveis e constatei o que pude relatar ao longo deste texto, até porque não sou um avestruz.