sábado, 24 de novembro de 2007

SUPERAÇÃO DA SEMIÓTICA
[o ser pós-humano]
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Qualquer condição de superação da sociedade capitalista começa justamente por reconhecer a nossa incapacidade se superá-la externamente, ou seja, sem contar com suas contradições e com as condições materiais interiorizadas por ela em nós. Sim, somos ou estamos uma interiorização do capital, vivemos assim e negar isso é o mesmo que ir viver numa floresta sem utilizar qualquer dos inventos que o capital nos proporcionou. Porém, o que exteriorizamos, o que fazemos com essa interiorização é escolha nossa. O que devolvemos ao mundo somos nós que escolhemos e determinamos.

Num primeiro momento nascemos e convivemos com o rizoma do capital, somos captados por suas teias, sugados por seus símbolos e geralmente ainda não temos nenhuma base ideológica para superar ou contestar isso. Por mais que algumas vezes possamos questionar algum dos preceitos básicos, não conseguimos visualizar o sistema como sistema. Visualizamos atos isolados, costumes estanques, sem descobrir a relação que um tem com o outro e tudo o que está por trás dessa lógica: o capital. Essas mediações mais singulares, só são percebidas depois da descoberta e do domínio das palavras, depois de, pelo menos, quinze anos. Anos vividos passivamente sob o teto do capital, sem nenhuma atividade de contestação, sem uma postura de criticidade ante a esse conjunto de relações econômicas, filosóficas e pessoais que é o sistema de produção capitalista.

Contestar o sistema virou clichê, virou clichê porque a maior parte dessas críticas são sempre feitas com base no senso comum, no costume errôneo de achar que qualquer pesquisa – principalmente as pesquisas que denunciam falácias e contradições do capital – é verdadeira, eterna e imutável. Não, não podemos pensar assim. O capitalismo é um mutante por natureza e a análise que, por exemplo, Karl Marx fez do capitalismo pode ser um caminho, mas não será nunca uma meta. Se conseguirmos entender o capitalismo descrito por Marx, conseguiremos entender o capitalismo de sua época, de seu tempo. Hoje várias transformações daquele capitalismo já aconteceram, várias nuances aconteceram, aproximações e distanciamentos do “capitalismo marxiano” aconteceram, portanto, por mais que possamos olhar o capitalismo atual aos olhos de Marx, devemos superá-lo, ir além dele, pois o nosso já é diferente do dele – e, com certeza, houve pelo menos um capitalismo entre o dele e o nosso. Talvez até por isso mesmo o nosso camarada Marx disse que não era “marxista”. Para mais além ainda, o capitalismo de Marx talvez ainda exista em algum lugar do mundo e em outros cantos do mundo, não: talvez a maior semelhança entre capitalismo e anarquia seja justamente essa possibilidade de serem modelos de produção mutantes e que não existem apenas sob uma forma única e lacrada de ser, assim não existe o capitalismo, mas os capitalismos, da mesma forma que não existe o anarquismo, mas sim os anarquismos.

Para superar o capitalismo, antes de qualquer superação material, é preciso uma superação da própria humanidade. A humanidade deve ser superada. Deve ser superada essa condição de humanidade-esponja, que só absorve e nada cria. Que adora aplaudir, mas tem vergonha de ser aplaudido. Que tem medo de mostrar suas potências, que é humilde. Humildade é sempre sinal de fraqueza. Superar essa condição viciada em interiorizar a moral, o espírito, os costumes, a crença, o que fede. Superação: para além de toda essa cultura enlatada que nos é empurrada é para onde devemos caminhar. Superação: para além de toda essa fábrica de transformar pessoas em robôs é para onde devemos caminhar. Conseguir ver no horizonte algo além do papel, os objetos, de toda essa objetivação a que nos submetemos através do processo de humanização no capitalismo com o centro das mediações humanas sendo o capital e não mais a palavra.

Essa superação da humanidade, da condição mais capitalista de passividade e de acriticidade a que estamos submetidos, é individual. Por mais que possa ser influenciada e o despertar para ela possa ser gerado por algo externo, a internalização dessa superação é individual, depende da vontade, do querer de cada um. E é a partir dessa vontade de superação que nasce o indivíduo pós-humano que proponho. Esse indivíduo pós-humano é sempre filho de si mesmo, sempre constrói a si mesmo, é filho de uma idéia que ele mesmo aceitou, gerou e cuidou durante todo o processo embrionário, até alcançar a sua superação, a sua pós-humanidade, antevista e projetada por ele mesmo. Esse ser pós-humano é filho de um ser humano (ante-pós-humano), filho de transformações ocorridas dentro de um mesmo corpo, porém não com a mesma pessoa, pois aquele corpo abriga vários “eus” e vários quereres que jamais poderão ser determinados e quantificados antes de finda aquela existência. Esse pós-humano é fruto de uma vontade de superação do que há de mais humano e bestial.

Mais do que uma superação de si mesmo, é uma projeção de si mesmo, externar ao mundo e materializar no mundo, segundo por segundo, a sua perspectiva de único, de mutante, mas um mutante senhor dessa mudança e não um mutante passivo, mero receptor de idéias, que muda conforme recebe as mudanças estranhas a sua vontade. É inclusive a superação desse tipo de ser mutante que agora existe. É uma mutação própria e projetada sobre si mesmo para o futuro. Debater-se contra seu próprio funcionamento orgânico, objetivo, subjetivo, seu estar-no-mundo a fim de encontrar a melhor forma se colocar nesse espaço onde vive, superando seus próprios limites, tendendo ao infinito sempre. Essa constante superação de si mesmo apresentará ao mundo o ser pós-humano, que supera os antigos símbolos econômicos, filosóficos, sociais e políticos, estabelecendo novos símbolos, conceitos e saberes, todos novos e totalmente confluentes com a idéia de emancipação que tanto é almejada.
Vinicius Falcão

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Soneto ao Silêncio
Não gosto quando você fala demais
e não gosto quando não fala nada
porque, se você fica assim, calada,
minha alegria se desfaz.
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Eu sei que não há nada demais, mas
minha vida é desorganizada
não a quero ver desanimada,
E, se você quiser, não falo mais...
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Não falo mais das coisas dessa vida
faço tudo para ser divertida
e ela acaba triste e silenciosa
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Abismos no Silêncio se escondem
por isso silencio também
e é assim que ela vem, a "Nebulosa"
Vinicius Falcão