sexta-feira, 15 de maio de 2009

Não sei o que dizer. As palavras apenas saem, vazam, como um cano furado e cheio de água por dentro.

Gosto de ver as palavras no papel. Assim, no computador, fica estranho, pois não as consigo tocar. Eu gosto das palavras, de sentir o gosto quando toco, mas não toco com os olhos e sim com as mãos, não posso tocar se estão separadas de mim pela tela do computador.

Escrever talvez seja a melhor coisa que existe. Mas quando o que você escreve vai pro papel digitado. Não gosto de coisas escritas a mão, a digitação tem um todo um charme, consegue me encantar, confesso. Mas ainda assim eu resisto e escrevo, mesmo com a minha impressora quebrada. Se pudesse ficaria anos a fio só escrevendo, qualquer coisa que vem à cabeça. Não queria que isso soasse como desabafo, mas talvez seja apenas um desabado, ainda mais porque estou falando que não queria isso. Que seja! Pelo menos estou escrevendo, isso é o tudo o que mais me importa.

Queria sentir o vento do tempo batendo em meu rosto, em meus cabelos. Queria não sentir tanta falta das novidades e, por isso mesmo, tentar alcançá-las, num vazio discreto que o horizonte aponta quando amanhece. Depois que tudo ficar pronto, que todo esse barulho de teclas do computador parar, depois de tudo, apenas vou suspirar e sentir tristeza, tristeza por já ter terminado de escrever, tristeza por não poder tocar no que escrevi, tristeza, apenas tristeza. Mas ainda uma tristeza alegre, uma alegria difícil, uma tristeza extremamente ativa – é a atividade a marca mais forte da alegria e as alegrias são sempre passageiras (ainda bem, só assim as podemos reinventar). As alegrias passam como as pessoas que gostamos entram e vão embora de nossas vidas. Sempre fica alguma coisa, embora já não seja mais alegre, nem triste, apenas alguma coisa, algum sentimento que não pode mais ser nomeado.

Os pontos, as vírgulas, os travessões para colocar comentários no meio das frases, os parênteses que têm quase a mesma função dos travessões, o ponto e vírgula que deixa com que possamos separar longas frases explicativas no discurso, as aspas que permitem a ironia e os acentos, os queridos acentos, que servem para indicar a entonação. Eis a língua. Mas não aceito a língua como ela é, consigo fazer seus signos falarem mais do que isso, consigo – ou pelo menos tento – fazer com que toda essa engrenagem gramatical que exerce poder saia de sua ordem funcional e consiga girar em outro sentido. É o que tento fazer quando escrevo. Por isso alterno frases curtas e longas. Como essa. Ou como a primeira frase desse parágrafo. Por isso também alterno parágrafos curtos e longos ao longo de meus textos. Por isso muitas vezes repito expressões e separo com pontos o que poderia ser apenas separado com vírgulas. É uma questão de estilo. É uma questão experimental. É isso, é uma questão experimental.

Escrever, eu amo escrever e odeio as coisas já escritas, ler as coisas que escrevi eu odeio. Escrever, eu adoro esse processo, esse ato. Escrevendo. É muito bom estar escrevendo, sinto que poderia ter acabado esse texto alguns parágrafos atrás, mas continuo me alongando, não consigo parar de escrever. Não quero mais dizer nada, se quiser pare de ler agora, pouco me importa se estão querendo ler o que escrevo, eu apenas quero escrever, vomitar, regurgitar o que me importa e conservar o que me interessa agora. Antes de morrer eu quero ter escrito muito mais coisas como essas, melhores do que essas. Antes de morrer eu apenas quero escrever, uma, duas linhas, coisa pouca, qualquer coisa sem sentido que afirme ainda mais a vida ante à morte.