sábado, 3 de abril de 2010



soltos ficam todos os desejos quando a noite vem
então as letras resolvem-se e afogam-se sozinhas
em mim, mas juntas já não formam palavras
nem imagens: miragens de sonhos (equi)distantes.

Um tempo que escapa pelas mãos da memória
se forma em um momento impreciso e deixa
tudo o que tem a maior intensidade escondido
nos fragmentos desse movimento que mata e
ao mesmo tempo faz viver:

Como todo amor desperdiçado aos domingos
quando nos falamos pela última vez,

Como todo corpo de afetos guardados em mim
que sucumbirão num dia de sol,

Como os pássaros d'"O poema sujo"
e toda aquela história poética que acabo de ler,

Como a Buenos Aires que não conheço
mas sei que chega até mim intensa naqueles versos,

Como o tempo em que não nos falamos e
apenas inventamos diálogos entre nós.

Toda a poesia é apenas inventividade
Toda palavra está morrendo, porque as
palavras vêm e vibram em mim e depois
vacilam quando minha mão as traduz
da linguagem caótica dos blocos intensos para
a Língua Portuguesa; toda poesia ofega
em cima deste frágil momento de morte dentro
da minha vida.



Vinicius Falcão
02/04/09