segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Porquê sou tão melhor que os outros?

Essa é a pergunta que há tempos faço e não quero(ria) admitir a mim mesmo por causa de um sentimento fétido chamado humildade.

Sei reconhecer meu valor e sei que meu valor – o valor de minhas experiências e de minha capacidade de abstração – é maior que o de noventa e cinco por cento das pessoas que conheço. Poucas, pouquíssimas pessoas conseguem se aproximar dessa minha capacidade e a essas eu dedico pouco do meu tempo para saber onde está meu nível. Não, eu não sou um “ser superior”, eu apenas não me contento com pouco, eu quero sempre mais, quero ir mais fundo e é por isso que eu tenho uma capacidade de abstração maior do que quase todas as pessoas que conheço, mas também reconheço que muitas pessoas têm um potencial não aproveitado enorme, natimorto – elas escolheram abortá-lo, não lêem, não escrevem, não se interessam por literatura ou por filmes que realmente têm qualidade, escolheram o caminho oposto ao da abstração e renderam-se à objetivação imposta pelo mercado. Não, eu não sou superior, apenas sou um resistente que tenta mediar suas relação não nas COISAS (res) mas nas PALAVRAS (sermo). Minha superioridade não é genealógica (ou seja, não há nada de genética nisso), minha superioridade está nas minhas escolhas, foram minhas escolhas que me guiaram, me moldaram (e me moldam ainda) pelo caminho da abstração e da criticidade.

Sou tão melhor que os outros e isso não me incomoda e também não me incomoda dizer isso.

Sou tão melhor que os outros que não consigo sequer conservar dois minutos de diálogo com boa parte deles.

Sou tão melhor que os outros que não preciso do amor deles, de sua compaixão ou de sua aprovação para nada.

Sou tão melhor que os outros que consigo superá-los em tudo, menos em idiotice e hipocrisia.

Sou tão melhor que os outros que não consigo sequer ser humilde tamanha é minha superioridade.

Não quero me nivelar por baixo, por isso seleciono as pessoas com quem converso. Por não querer me nivelar por baixo, nem todos os que conversam comigo são meus amigos. Por não querer me nivelar por baixo, sou meu melhor amigo – afinal, sou a melhor pessoa que conheço. Daí vem essa necessidade de mim mesmo, de estar só mais que o normal, de ser diferente dos outros. Claro que sou diferente: sou melhor que todos os outros. Como poderia ser igual se sou melhor. SOU MELHOR, ESCOLHI SER MELHOR E CADA PASSO MEU NO MUNDO ME MOVE A ISSO.

Não era meu destino. Não estava escrito nas estrelas. Não sou predestinado a coisa nenhuma a não ser a escolher o que será minha vida – assim como cada um dos seres humano é. Sou melhor por ter escolhido o melhor caminho, as melhores leituras e as melhores pessoas possíveis para compartilhar o caminho por que passo.

Sou melhor por ter mais abstração, por escrever tão bem, por ser tão mais inteligente que a maioria das pessoas.

Sou melhor porque entre a liberdade e a felicidade, não pensei duas vezes e me agarrei à liberdade: é o único modo que tenho para ser feliz, pois a tristeza também faz parte da felicidade, assim como ódio, a angústia e todo um turbilhão insolúvel de sentimentos e paixões...

Porquê... porquê sou tão bom?

Fui eu quem escolheu isso?

Porquê... porquê não ser medíocre
?

domingo, 9 de setembro de 2007

Tempos de modernidade

As estruturas de concreto morto
assassinam todos os velhos sentimentos
que eu desenvolvia nas profundezas;
construções vazias, cheias de vento
,ganham novo poder transformador:
de, viva, mortificar qualquer razão,
de amortecer quedas repentinas
na esquina da rua da minha casa.

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A poluição extermina toda
possibilidade de continuar,
de continuidade, nesse ritmo,
que se torna mais e mais musical
e, por isso, repetem-se as quebras
nas engrenagens obscuras, semânticas
semi-mortas desde o nascimento
desde o processo de criação.

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Não consigo conciliar o tempo
e o discurso seco, responsável
por centenas de correntezas
por onde fluem as minhas incertezas
rimadas nas ruas enrugadas, curvas
sob pontes de concreto subjetivas
que jamais se dobram ante a força
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não consigo – na verdade não quero –
tentar entender começo e fim
de qualquer coisa parecida com
o suspiro final do pensamento
que pode fazer nascer mal no meio
de tanta poluição, dentro de
tanto barulho, barbárie e caos...
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Revoadas cheias de incerteza
sempre buscam concertos permanentes
nascem e morrem, continuamente
como se estivessem, ao mesmo tempo,
presentes do começo ao final
no nascimento e no funeral
de uma mesma época, condenada
aos mesmos desgostos e às mesmas, velhas,
apenas revestidas, problemáticas
apenas a aparência diferente;
como se trocasse apenas a
roupa, surrada, suja e rasgada
por uma camisa nova, limpa ... branca.

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Esse recomeço não permite erros
muito menos diversos pensamentos;
também não permite os pensamentos
e muito menos muitas construções;
os erros não permitem construções
muito menos velhas opiniões.

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Como sempre, estão todos atrasados,
para chegar ao local escolhido;
como sempre eles tentam adiar
a chegada, para perder a ida,
mas o relógio Dela é preciso
o relógio Dela é mais perfeito
até que a edificação mais sólida
que edifícios, pontes e formas
– todas elas juntas – vivas mais modernas
externadas, até a forma dos versos.
Ela simplesmente faz tocar o sino:
então as nuvens abrem, mortos vivem
e os vivos vão; os não vivos choram;
e os viventes continuam andando
observando as estruturas de
concreto que amornam sentimentos.

26/08/07
[VINICIUS FALCÃO]