Por que as pessoas não respeitam o direito dos outros de ficarem a sós? Por que há, na sociedade, uma cultura da inclusão barata? Por quê?
Certamente existem muitas respostas para isso. Certamente. Eu não pretendo responder a questão, mas apenas levantar um problema à sua volta.
Para começar, um exemplo: muitas vezes, quando estou em casa lendo, minha mãe me interrompe várias vezes para perguntar besteiras, coisas idiotas como o que eu quero comer. Eu não respondo. Várias vezes ela pergunta, várias vezes eu finjo não ouvir. Até que ela insiste e então eu berro “eu tô lendo, me deixa em paz!”. Será que ela pensa que eu sou tão criança que vou morrer de fome?
Se você está sozinho, calado, as pessoas já logo deduzem (“logicamente”) que você está mal, triste, e perguntam logo o célebre “o que foi?”, será que é proibido, agora, ficar só e pensar em alguma coisa que não esteja ligada diretamente à praticidade imediata da vida besta onde a maior parte dos seres humanos está inserida até o pescoço? Na verdade não há mal algum em estar sozinho, a não ser que você ache que há algum mal em estar sozinho; na verdade, se você acha que há algum mal em estar sozinho – NO MEU MODO DE VER A VIDA – há algo de mal (de errado) em você. É sinal que você espera pelos outros para dar sentido à sua vida, é um claro vestígio que você atribui o sentido da sua própria vida a pessoas estranhas às suas entranhas, é a prova cabal que você tem medo de si mesmo. A solidão é uma dádiva da existência. Aceite a solidão, como quem aceita o ocaso do sol todos os dias e o ocaso da lua toda as manhãs. A solidão é melhor companhia, é quando você consegue entrar em contato com seus mais íntimos e escondidos “eus-perdidos”, “eus-outros”, aquilo de você que se expande, se alarga, já não cabe somente num corpo, num cérebro, numa alma só, é aquilo de você que não pertence a você mesmo, é algo maior que a sua própria existência. São deuses sem nome, mulheres sem sexo, homens sem pêlos, crianças sem choro, o espelho da moça que penteia o cabelo bem na sua frente, o batom da amiga dela, o cheiro do cabelo daquela garota que você sente todos os dias de manhã, aquele perfume tão bom que chega a tomar forma quando entra em você. O tal perfume começa a ser sentido por você, pelo seu tato, pois seus sentidos não se contentam apenas em senti-lo enquanto cheiro, eles alargam-se e criam novas formas de interagir com o estranho cheiro que surge inesperadamente. Há uma infinidade de tribos dessa monta dentro da solidão do deserto que somos, cabe a nós deixar que elas falem, dancem, cantem sua poesia e toquem seus ritmo, ou não, ou fazer com que elas fiquem resignadas e esquecidas, subjugadas, esquadrianhadas de longe por uma espécie de sub-consciente-freudiano-perverso que não deixa com que possamos ter contato com elas. Tudo isso é a solidão. Tudo isso é o que perdemos quando acreditamos realmente haver problemas em não estar sozinho.
Não, eu não estou pregando uma “solitariedade” infinita, uma vida sem contato social. Estou apenas tentando levantar um problema, “abrir os olhos” para algo esquecido em meio a uma cultura da massificação e da inclusão forçada, sugada que foi por uma teia social doente pelo consumo, pelo modo capitalístico de ser, pelo “liberdade de escolher a cor da embalagem”, liberdade virtual, simplista, paradoxalmente aprisionadora, que une as pessoas as separando, pois une as pessoas em torno de mercadorias, então, estamos unidos por gostarmos das mesmas mercadorias, logo, consumimos juntos, mas, de fato, não estamos juntos, somos apenas fruto do acaso do desejo captado. Esses, sim, são os verdadeiros solitários, por isso eles sentem medo, fobia de si mesmo, eles são algo como autofóbicos – se é que esse termo existe. Dentro desse sentido jogado, empurrado goela abaixo à fina força por uma cultura social doente que se baseia na saúde doente dos médicos – comerciantes de uma saúde racional nos moldes da modernidade, portando falida –, estamos nós, vítimas e algozes de nós mesmos, de nosso mundo de solidão. Aqui a solidão nos apresenta. Somos feras, leões, melhor ainda, leoas, prontas para atacar, para comer a carne uns dos outros; e, ao mesmo tempo, servos prontos para o abate. Somos o mesmo e o outro. O sim e o não. O tudo É o nada, aqui. A solidão é justamente a proximidade. É estar só quando você abraça outrem e se sente quilômetros distante daquela pessoa. Essa é a solidão real, o que eu tinha quando minha mãe me perguntou se eu queria almoçar, mais ainda, o que eu tenho quando estou sentado, sozinho, olhando uma formiga se deslocar e alguém me “cutuca” perguntando qualquer coisa, não é solidão, eu estou no mais profundo caos que meus eus outros fazem para que eu consiga sair dessa lógica da solidão inclusiva e sufocante. É sem sombras de dúvidas O MEU MODO DE RESISTIR.
Certamente existem muitas respostas para isso. Certamente. Eu não pretendo responder a questão, mas apenas levantar um problema à sua volta.
Para começar, um exemplo: muitas vezes, quando estou em casa lendo, minha mãe me interrompe várias vezes para perguntar besteiras, coisas idiotas como o que eu quero comer. Eu não respondo. Várias vezes ela pergunta, várias vezes eu finjo não ouvir. Até que ela insiste e então eu berro “eu tô lendo, me deixa em paz!”. Será que ela pensa que eu sou tão criança que vou morrer de fome?
Se você está sozinho, calado, as pessoas já logo deduzem (“logicamente”) que você está mal, triste, e perguntam logo o célebre “o que foi?”, será que é proibido, agora, ficar só e pensar em alguma coisa que não esteja ligada diretamente à praticidade imediata da vida besta onde a maior parte dos seres humanos está inserida até o pescoço? Na verdade não há mal algum em estar sozinho, a não ser que você ache que há algum mal em estar sozinho; na verdade, se você acha que há algum mal em estar sozinho – NO MEU MODO DE VER A VIDA – há algo de mal (de errado) em você. É sinal que você espera pelos outros para dar sentido à sua vida, é um claro vestígio que você atribui o sentido da sua própria vida a pessoas estranhas às suas entranhas, é a prova cabal que você tem medo de si mesmo. A solidão é uma dádiva da existência. Aceite a solidão, como quem aceita o ocaso do sol todos os dias e o ocaso da lua toda as manhãs. A solidão é melhor companhia, é quando você consegue entrar em contato com seus mais íntimos e escondidos “eus-perdidos”, “eus-outros”, aquilo de você que se expande, se alarga, já não cabe somente num corpo, num cérebro, numa alma só, é aquilo de você que não pertence a você mesmo, é algo maior que a sua própria existência. São deuses sem nome, mulheres sem sexo, homens sem pêlos, crianças sem choro, o espelho da moça que penteia o cabelo bem na sua frente, o batom da amiga dela, o cheiro do cabelo daquela garota que você sente todos os dias de manhã, aquele perfume tão bom que chega a tomar forma quando entra em você. O tal perfume começa a ser sentido por você, pelo seu tato, pois seus sentidos não se contentam apenas em senti-lo enquanto cheiro, eles alargam-se e criam novas formas de interagir com o estranho cheiro que surge inesperadamente. Há uma infinidade de tribos dessa monta dentro da solidão do deserto que somos, cabe a nós deixar que elas falem, dancem, cantem sua poesia e toquem seus ritmo, ou não, ou fazer com que elas fiquem resignadas e esquecidas, subjugadas, esquadrianhadas de longe por uma espécie de sub-consciente-freudiano-perverso que não deixa com que possamos ter contato com elas. Tudo isso é a solidão. Tudo isso é o que perdemos quando acreditamos realmente haver problemas em não estar sozinho.
Não, eu não estou pregando uma “solitariedade” infinita, uma vida sem contato social. Estou apenas tentando levantar um problema, “abrir os olhos” para algo esquecido em meio a uma cultura da massificação e da inclusão forçada, sugada que foi por uma teia social doente pelo consumo, pelo modo capitalístico de ser, pelo “liberdade de escolher a cor da embalagem”, liberdade virtual, simplista, paradoxalmente aprisionadora, que une as pessoas as separando, pois une as pessoas em torno de mercadorias, então, estamos unidos por gostarmos das mesmas mercadorias, logo, consumimos juntos, mas, de fato, não estamos juntos, somos apenas fruto do acaso do desejo captado. Esses, sim, são os verdadeiros solitários, por isso eles sentem medo, fobia de si mesmo, eles são algo como autofóbicos – se é que esse termo existe. Dentro desse sentido jogado, empurrado goela abaixo à fina força por uma cultura social doente que se baseia na saúde doente dos médicos – comerciantes de uma saúde racional nos moldes da modernidade, portando falida –, estamos nós, vítimas e algozes de nós mesmos, de nosso mundo de solidão. Aqui a solidão nos apresenta. Somos feras, leões, melhor ainda, leoas, prontas para atacar, para comer a carne uns dos outros; e, ao mesmo tempo, servos prontos para o abate. Somos o mesmo e o outro. O sim e o não. O tudo É o nada, aqui. A solidão é justamente a proximidade. É estar só quando você abraça outrem e se sente quilômetros distante daquela pessoa. Essa é a solidão real, o que eu tinha quando minha mãe me perguntou se eu queria almoçar, mais ainda, o que eu tenho quando estou sentado, sozinho, olhando uma formiga se deslocar e alguém me “cutuca” perguntando qualquer coisa, não é solidão, eu estou no mais profundo caos que meus eus outros fazem para que eu consiga sair dessa lógica da solidão inclusiva e sufocante. É sem sombras de dúvidas O MEU MODO DE RESISTIR.

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